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  • Foto do escritorRedação

Da falta de emprego

Atualizado: 24 de nov. de 2020


Por Barbara Cristina

A pandemia gerou graves consequências para a economia, e com isso, veio o desemprego. A fonte de renda de inúmeros brasileiros foi cortada abruptamente, chefes de família viram o chão desmanchar-se embaixo de seus pés. Como fazer o mercado? Como pagar as contas? O cenário se repete por todo o país.


Incluindo o município de São Borja, que de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 2018, tem como renda sobretudo a agropecuária e o comércio, duas áreas afetadas diretamente pela crise. Um retrato do desemprego em decorrência da crise é a empresa em que Flávio Reus da Silva, 49 anos, trabalhava. Primeiro, conta ele, “pediram para que ficássemos em casa por alguns dias, depois nos chamaram para assinar a rescisão”. Durante o mês de março, início da pandemia, a usina termoelétrica que garantia seu sustento demitiu cerca de 30 funcionários de uma só vez. Este é o chamado “passaralho”, termo usado para indicar demissões em massa como esta. Como trabalhava na usina há algum tempo, seu respiro foi receber o seguro desemprego, pago por cinco meses, em cinco parcelas. Não foram todos os que tiveram o mesmo recurso de Flávio.

"É isso ou fechar as portas"
Por Barbara Cristina

Kátia Jacques Nauter, 32 anos, trabalhava em uma lanchonete sem carteira assinada e ganhava um salário mínimo. Quando o pesadelo da pandemia chegou para ela no mês de abril, seu chefe teve que demitir inúmeros de seus funcionários, “é isso ou fechar as portas”, dizia ele. O movimento era pouco no estabelecimento, e seu instinto já dizia que boa coisa não viria pela frente. Kátia perdeu seu emprego sem chances de receber seus direitos. Com dois filhos pequenos para criar, Joaquim de 11 anos e Bel de 10 anos, a chefe de família não sabia o que iria fazer. Procurou outro emprego, mas as chances que encontrou beiravam o trabalho escravo, chegava a trabalhar 12 horas por dia. Saía de madrugada e chegava à noite, excedendo totalmente o tempo de trabalho diário previsto pelas leis trabalhistas, que permitem apenas oito horas diárias de trabalho sem hora extra.


Devido à exaustão, ela optou por abandonar o emprego, ficando, assim, sem nenhuma renda além da pensão de R$500 reais paga mensalmente pelo pai de seus filhos. O dinheiro não dava para o seu sustento e das duas crianças. Foi aí que ela ouviu falar sobre o Auxílio Emergencial proposto pelo Governo Federal. Ali, viu sua chance de tentar manter-se em pé. Fez a solicitação para o Auxílio no aplicativo Caixa Tem. Esperou, esperou, mas o dinheiro não chegava. Como chefe de família e desempregada, Kátia deveria receber R$1.200 de Auxílio todo mês, o que não aconteceu. Até o fim da produção desta matéria, em novembro de 2020, ela ainda não tinha recebido todas as parcelas a que tem direito. Em meio a crise, não deixou abalar-se, pensava constantemente em soluções para a falta de dinheiro. As mesmas perguntas de milhares de brasileiros neste período:


“Como irei pagar as contas?”
“Como irei colocar comida na mesa?"

Na casa de Flávio, os dias do seguro-desemprego estão contados. Ele está à procura de uma nova fonte de renda, visto que agora seu sustento é através do Auxílio Emergencial de R$600 reais recebido pela mulher e os itens que planta em sua horta. Ele vive em uma propriedade no interior de São Borja com sua companheira e dois filhos, que, por sorte de Flávio, são adolescentes estudantes e recebem auxílio do Instituto Federal Farroupilha (IFFar) de São Borja. A instituição também fornece cestas básicas regularmente para os jovens. Além disso, Flávio diz viver de “bicos”, os chamados trabalhos que aparecem esporadicamente, onde ele faz serviços como marcenaria, artesanato, limpeza de pátio e também trabalha como motorista algumas vezes. Quando o seguro-desemprego acabar, não sabe como garantirá seu sustento. “Estamos perdidos”, afirma.


Por Barbara Cristina

Carolina Charneski, 43 anos, já foi beneficiária do programa Bolsa Família do Governo Federal. Recebia R$120 por mês para sustentar a si mesma e sua família. Complementava a renda com a pensão paga por seu ex-marido, no valor de R$300. Ela diz nunca ter contado com renda fixa ou carteira assinada, trabalhava quando conseguia, na maioria, passageiros. Um pouco antes da pandemia, Carolina montou a própria lanchonete em casa com a ajuda do ex-marido, pai de seus dois filhos, um de sete e outro de oito anos de idade. A lanchonete atende apenas entregas, mas o negócio não escapou da crise devido à Covid-19. O movimento de clientes começou a enfraquecer e Carolina viu-se mais uma vez em dificuldades. Foi quando soube do Auxílio Emergencial. Ao fazer a solicitação para o recebimento do Auxílio, descobriu que já estava cadastrada devido ao benefício do Bolsa Família que recebia anteriormente.


Enquanto buscava informações sobre o Auxílio, Carolina encontrou vários obstáculos. Reclama do mau atendimento da Caixa Econômica Federal, banco através do qual é pago o Auxílio. Como não sabia ao certo usar o aplicativo Caixa Tem e, devido à superlotação, não conseguia sanar suas dúvidas. Mas achou uma alternativa na cooperação com conhecidos que também estavam na mesma condição dela. De acordo com Carolina, “aqueles que conseguiam foram ajudando os outros, era um dando uma dica daqui, outro dando uma dica dali, e o povo foi se virando, buscando informações”. Com o dinheiro, Carolina conseguiu comprar o que seus filhos precisavam, alimentos e roupas. A situação ainda é complexa, mas ela diz estar aliviada pelo Auxílio ter se estendido até dezembro:


“Fico triste por aqueles que não estão dando valor e a graça por receber esse benefício, muitas pessoas gastaram esse dinheiro em futilidades. E depois que acabar esse benefício, por exemplo, vou continuar na minha luta, continuar com minha pequena lancheira, porque desistir não dá”, explica ela.

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